A importância da Criatividade

20-03-2013 17:46

Comentário Reflexivo

        Nos nossos dias é por demais reconhecido, que vivemos num mundo em contante alteração e renovação, muito em consequência dos avanços da técnica e da ciência, nos vários campos de intervenção. A nossa realidade e a realidade exterior, mudam a uma velocidade estonteante, aquilo que hoje está na moda, que é verdadeiro e aceite por todos nós, rapidamente cai no desuso, deixa de ter valor e é criticado e afastado, passado pouco tempo, face ao grau de exigência da moderna sociedade e do Homem actual. Neste sentido, para nos mantermos activos, para conseguirmos sobreviver, necessitamos de alterar, mudar, seguir novos caminhos, alcançar novas metas e assim podermos realizar os nossos desejos, as nossas ambições e os nossos sonhos.

        A sociedade é caracterizada pelo racionalismo e automatismo, baseada no trabalho e numa vida por demais rotineira e repetitiva, assente numa grande padronização, palco de actuação do Homem mecânico, vivendo numa economia, cuja principal preocupação é a produção de capital, de riqueza. Todo o nosso comportamento, é reflexo desta vida tão agitada e tão sem sentido, na qual somos actores e intérpretes, baseada em padrões fixos e modas certas de estar e agir, na maior parte das vezes nos esquecemos que há momentos que a vida exige mudanças profundas. Exige uma postura diferente, um olhar, sentir e agir diferente. Se ficarmos estagnados na vida, ela passa por nós a uma velocidade estonteante, ficamos ausente dela. Continuaremos passivos, inactivos, inertes, imóveis, rígidos, tensos rotineiros, conformistas, ideativos, sonhadores, contudo, nada realizaremos nem produziremos, ao nível individual, profissional e social.

        Precisamos mudar! Precisamos abandonar a versão popular do “piloto automático” e tornarmo-nos criativos e inovadores, (…) é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia:”

        Da leitura daquilo que o poeta nos escreveu, referirmo-nos também em relação aos nossos conceitos e pensamentos. Trata-se de pensar e repensar o nosso pensamento, ou de outra forma e na concepção de Edward de Bono (2003), pensar fora da caixa, implica fazer a restruturação dos conceitos e das percepções que usamos e sair da caixa, libertar-nos dela e assim podermos trocar os conceitos, as percepções e as regras, desenvolvendo novas ideias. Trata-se de desformatar a caixa, desconstrui-la e re-construi-la de novo, rumo à transformação e renovação.

        Se a forma tradicional de pensarmos e agirmos, já não é a adequada e não é suficiente para atender e fazer face às exigências, aos problemas e necessidades actuais que nos são colocados, então teremos obrigatoriamente de mudar. Implica uma reforma no pensamento, tal como Edgar Morin (1990), nos alerta através do pensamento complexo.

        Só mudando, criando, sentindo, exprimindo e agindo, é que conseguimos alargar horizontes, ver mais longe, e conseguimos sair de nós próprios e transcendermo-nos. Por vezes é necessário mudar o guarda-roupa, isto é, fazer uma limpeza e mudar de foco, ver e pensar o mundo de outra forma, abandonar o preconceito, deixar para trás velhos hábitos e costumes, abrindo mão da teimosia e do orgulho. É necessário deixar para trás o passado esquecido, que muitas das vezes nos aprisiona e mantem como reféns, enfrentar os medos, as inseguranças e traumas, seguindo novos caminhos, novas estradas, novas rotas, novas aprendizagens, enfrentando novos desafios, ampliando a nossa capacidade de nos vermos a nós próprios e ao mundo envolvente.

        Para isto, nada melhor do que sermos criativos. Ao criarmos, estamos a construir, desconstruir e re-construir, atribuindo um novo sentido e significado. Através da expressão criativa, tornamo-nos agentes de mudança, deixamos de ser meros receptores e espectadores, para sermos agentes activos e participativos, transformando-nos em artistas criadores, comediantes, intérpretes, encenadores e realizadores. A criatividade livre e imaginativa permite que abandonemos as velhas teorias e dogmas, as rotinas, as crenças e estereótipos, permite-nos enfrentar novas situações, novos desafios e problemas, com maior confiança. Através da criatividade expandimos as nossas potencialidades e reconhecemos novas aptidões, conhecimentos e competências.

        Ao sermos criativos, abandonamos hábitos e rotinas egoístas, centradas em nós próprios na nossa teimosia e arrogância, para adoptarmos uma nova postura mais flexível, altruísta e mais justa e nos transcendemos a nós mesmos, criando. Neste movimento dinâmico de criação e re-criação do nosso próprio ser, promove-se o encontro com o si - mesmo, e nos superamos. Desta forma nos auto-realizamos, enquanto seres vivos, transformadores

"É o tempo de travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos".

        Sim, temos de ousar e arriscar. Buscar novas soluções para os problemas, enfrentar o desconhecido, o temeroso, o oculto, transformando os problemas e os desafios em novas oportunidades.Trata-se de uma viagem que exige sofrimento disponibilidade e inspiração. Célebre é a frase de Thomas Edison em que afirmava: “As minhas invenções são 1% de inspiração e 99% de transpiração.”

 

Nesta difícil travessia, cheia de aventuras e perigos, somos constantemente confrontados com ventos fortes e desfavoráveis, tempestades e outras dificuldades, navegando em correntes adversas e perigosas, contudo tendo ao leme a ousadia, a capacidade de atrevimento, a coragem, a persistência, a observação, a curiosidade e a capacidade empreendedora certamente que conseguiremos superar todas estas dificuldades e perigos encontrados, rumo ao desconhecido, ao diferente, ao novo, ao original, ao genuíno.

        Assim conseguimos sair do porto seguro, abandonando a zona de conforto e segurança em que nos encontramos e alargamos os horizontes, descobrindo novas rotas e caminhos. Se não encetarmos esta travessia, ficaremos para trás, não avançaremos e estaremos sempre condenados a ser quem somos, fechados para nós próprios e para o mundo à nossa volta.

        Sim, é necessário ousar, caminhar, dar asas à imaginação e à capacidade criativa, abrindo e ampliando novos espaços, novas portas e janelas, deixando a luz, a cor, o movimento, o som, a sensação, a emoção entrarem e saírem de nós próprios. Assim nos tornamos plurais como o Universo, como dizia o poeta.

        Torna-se necessário gerar ideias criativas e inovadoras, procurar novos caminhos, novas soluções para os problemas enfrentados, criando, transformando e renovando novos Projectos. Desta forma caminharemos rumo à realização plena, pessoal, social e comunitária. Só assim nos tornaremos seres independentes, felizes, realizados e motivados. Só assim nos tornaremos seres activos, ampliando a nossa capacidade de cidadania, transformando, renovando e saindo transformados.

        Devemos encarar esta travessia com fé, esperança e muito amor, pois ao efectuarmos esta viagem para a outra margem, cheia de perigos e mistérios por desvendar, viagem de exploração e investigação constante, é sinal que conseguimos atravessar os espaços intermédios, espaços potenciais, espaços transicionais (Winnicott, 1975), espaços de experimentação, zona de desenvolvimento próximo (Vygotsky, 1987), conseguimos vestir novas roupas, encontrando novas soluções, ampliando o nosso conhecimento. Através destas novas roupas, deste novo foco, conseguimos caminhar pelos fluxos imaginativos e criativos, conseguimos aceder a novas formas de ser, estar, sentir e viver, de forma livre, feliz, integrada e integradora.

Referências

Bono, E. (2003). Ensine os seus filhos a pensar. Cascais: Editora Pergaminho, Lda.

Morin, E. (1990). Introdução ao Pensamento Complexo. Lisboa: Instituto Piaget.

Vygotsky, L. S. (2012). Imaginação e criatividade na infância. Lisboa: Dinalivro.

Winnicott, D.W. (1975). O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago Editora.